Pinky olhou em volta e não reconheceu o lugar. Era um lugar imundo, cheio de mendigos fedorentos que falavam uma língua que ele não conhecia e fumavam algo (provavelmente crack) em cachimbos estranhos. Seu terno estava sujo e rasgado, não conseguia achar sua gravata e nem seu chapéu Panamá, e as poucas placas que via estavam rabiscadas. Caminhou um pouco e percebeu que estava sob um viaduto bastante movimentado, e, olhando para o céu, percebeu que a noite se aproximava. À sua volta, viu peixes gigantes em postes metálicos e uma passarela à sua direita. Tentou se comunicar com os pedestres, mas ninguém lhe dava atenção, e quem dava não compreendia o que ele falava. Nunca foi um cara de se desesperar, mas naquele momento era exatamente o que estava acontecendo.
Na mesma hora, há alguns
quilômetros dali, Jorge estava sentado à sua mesa com um gringo e um empregado
seu, atuando como tradutor, à sua frente. Jorge era um policial corrupto, gordo
e careca com um enorme bigode amarelo de tabaco e buceta. Parecia uma morsa, e
esse era exatamente o seu apelido. O Morsa estava lá sentado, falando com o
gringo e pensando “Quem esse negão pensa que é? Com essa tatuagem na cara e um
brinquinho escroto na orelha, mais parece uma puta da Guaicurus”. Por causa
desse último pensamento, deixou escapar um risinho bem no momento em que o
tradutor lhe falava da proposta do gringo, que olhou pra ele com cara de que
queria mata-lo. Pediu desculpas e pediu pro empregado repetir, e assim ele o
fez:
- Ô, seu Mor...é, Jorge...ele
falô que qué que cê ajuda ele num trem aí de crack. Diz ele que um cara que
trabalha pra ele veio pra cá resolvê, mas fez merda e acabou caindo lá na
Lagoinha sem um Real no bolso e sem falar português. Pediu pra ver se ocê dá um
jeito.
- Porra, Almeida, vai tomá no cu,
cara! Eu fico aqui me fudendo o dia inteiro nessa porra desse Maletta pra quê?
Pra vim um féadaputa dum gringo com uma porra duma tatuagem NA CARA e um brinco
de bicha me pedir pra tirar o namoradinho dele dos nóia? Ah, vai pra puta que
pariu, cara, na boa! Manda ele ir caçar o Tadeu que essa porra quem resolve é
ele!
Assim que o Morsa começou a
gritar, o negro Earl se levantou da cadeira e ameaçou ir embora se não ouvisse
uma explicação imediatamente. Almeida se acalmou o máximo que pôde e explicou:
- I’m sorry, Mr. Earl. My boss is a little upset about some
personal problems, and he basically said that your problem is out of his reach,
but he said he knows someone who can help you. His name is Adriano Tadeu, and
his office is just across the street, near the postal service. I can take you
there if you want to.
- Thanks, Mr. Almeida, I’ll go with you. Tell
your boss to calm the fuck down, because next time, I won’t be so kind.
- Chefe, ele falou que o senhor é
um camarada gente fina.
- Tá bom, Almeida, manda ele à
merda também. Agora vai logo, porra! Tô cansado dessa tatuagem na minha cara!
E assim, Almeida e o negro saíram
do Edifício Maletta, atravessaram a Rua da Bahia e subiram uma pequena escada
ao lado de uma agência dos Correios, para chegarem numa porta com uma plaquinha
velha e enferrujada com os seguintes dizeres:
ADVOGADOS ASSOCIADOS
ADRIANO TADEU E CIA.
SÓ NÃO RESOLVO UNHA
ENCRAVADA
Almeida bateu na porta, esperou a
resposta, e eles entraram no pequeno inferno na Terra que era o escritório do
Tadeu.
Notas do autor:
- Edifício Maletta é um dos prédios comerciais mais antigos (e movimentados) do centro de Belo Horizonte;
- Lagoinha é uma região limítrofe do centro de Belo Horizonte;
- Guaicurus é uma rua no centro de Belo Horizonte famosa pela oferta de diversas opções de "entretenimento adulto";
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