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domingo, 13 de maio de 2012

Pinky - O Chefe

Por: Marcelo Berquó

O Chefe era um negro grande e musculoso, com uma tatuagem no rosto e brincos de argola. Ele fumava um enorme charuto e enchia a apertada sala com uma fumaça densa. Um sorriso se formou em seu rosto quando Pinky lhe mostrou o conteúdo da maleta. Ele ficou tão feliz que não se importou com Rickard quando Pinky lhe contou o que tinha acontecido. Pinky também não parecia abalado, apesar de gostar de Rickard. Era um bom parceiro, intimidava os outros quando necessário. Mas seu pavio curto lhe custara a vida, e Pinky, no fundo, achava que ele merecia. O Chefe ainda não dissera nada, o que deixou Pinky apreensivo, com vontade de quebrar o silêncio. Quando ia fazê-lo, a porta se abriu e, para o espanto de Pinky, Harry entrou por ela, fechando-a atrás de si. Pinky não entendia o que estava acontecendo. Será que Harry descobrira seu esquema? Será que ele havia o seguido para mata-lo por ter roubado o dinheiro? Pinky começou a suar e seu coração disparava, até que, finalmente, o Chefe se levantou, abriu os braços e disse, com uma voz estrondosa:

- Vem cá, Harry, seu filho da puta! Como vai você, meu querido?
- Ah, negão desgraçado, eu estou ótimo! E o nosso rapaz aqui, o que aconteceu com ele? Parece que viu um fantasma!

Pinky, tremendo e suando, tentava dizer alguma coisa, mas não saía som algum. Harry insistiu:

- Que aconteceu, rapaz? O negão cortou sua língua fora?
-E-e-eu, eu...eu...
- Cruzes! Earl, você ainda não contou ao rapaz? Seu desgraçado! Rapaz, você não ganhou esse dinheiro todo por mágica! Eu estava dentro do esquema também, só que vocês não podiam saber disso.
Pinky estava totalmente sem palavras, e sentiu que podia desmaiar a qualquer momento. Não acreditava no que estava acontecendo. Reunindo o ar que lhe restava, perguntou:

- Por quê? Por que o jogo, se eu ia ganhar de qualquer maneira?

O Chefe então respondeu:

- Ora, Pinky, precisávamos saber como você se sairia lidando com a pressão. Um jogo ganho desde o início não deixa de ser emocionante por causa desse detalhe. E você provou que é centrado e consegue manter a cabeça no lugar mesmo se a merda acerta o ventilador e está tudo fodido à sua volta.

E Harry completou:

- Além do mais, meu garoto, Rickard estava passando dos limites. Ele precisava de uma terapia para controlar a raiva. Acho que 3 amiguinhos da .45 foram suficientes, hã? HAHAHAHAHAHA!

Nessa hora Pinky realmente desmaiou. Acordou no sofá que ficava de frente para a mesa do Chefe, onde ele se sentava ao lado de Harry, os dois se mijando de rir, provavelmente dele. Agora a merda toda fazia sentido. Rickard não morreu por ser burro. Ele morreu porque o Chefe queria. E ele não podia ficar sabendo, porque se ele soubesse, melava o esquema todo. O ataque de fúria do Rickard tinha sido previsto pelo Chefe e por Harry. Pinky se sentia um merda. Se sentia manipulado. Mas, ao mesmo tempo, se sentia aliviado. Depois de se acalmar, Harry e o Chefe lhe explicaram que ele ainda levaria o combinado (metade do dinheiro ficaria para o Chefe, um décimo da outra metade para Harry e o resto para ele). Isso o deixou feliz. Ia comprar uma arma nova, talvez aumentar seu apartamento, ou comprar um carro. Pinky percebeu, ao acordar, que o Chefe havia colocado um dos velhos LPs pra tocar, seu favorito: London Calling, do Clash. E, com a voz do Strummer gritando em seus ouvidos, ele pegou sua parte do dinheiro e saiu do prédio, andando em direção à sua casa. O dia tinha sido cheio e ele precisava de uma cerveja.

Mais tarde, deitado na sua cama, se lembrava da expressão no rosto de Rickard momentos antes de Harry disparar contra ele, mas logo afastou os pensamentos e dormiu. Acordou no meio da noite, assustado e gritando. Não se lembrava do sonho, mas com certeza não tinha sido bom. Tentou voltar a dormir, mas não conseguiu. Se limitou a encarar a janela até o sol nascer para se levantar e tomar um banho. “Merda, merda, merda, eu tô começando a ficar maluco, porra. Isso não é bom. Eu ainda vou me foder muito por causa disso.” pensava Pinky, enquanto a água caía lentamente.

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