Todos no escritório do Tadeu estavam muito preocupados com a demora do Almeida. O Marcelo tremia a perna, o Arthur roía as unhas, o Pinky andava de um lado pro outro, o Tadeu se balançava pra frente e pra trás na cadeira. Resolveram ligar pro telefone do Almeida, nada. Ligaram pro escritório do Morsa, nada. A sala nos fundos já estava preparada pra receber o Jorge, mas nada do Almeida dar notícia. Até que o Marcelo não aguentou mais e disse:
- Chega! Chega dessa merda!
Arthur, bora, vamo ver que que tá acontecendo naquele prédio maldito. Pinky,
fica aqui pro caso de acontecer qualquer merda. Vamo lá.
- Bora. Fica de olho em tudo aí
hein, Pinky.
E foram os dois, atravessaram a
rua e entraram no prédio. Já na entrada viram que tinha alguma coisa errada,
porque não tinha ninguém. Tentaram chamar o elevador, mas não funcionava. Foram
pela escada. O escritório do Jorge era no sétimo andar, então foi uma subida
cansativa. Chegaram lá em cima, mas a porta da escadaria tava emperrada. Deram uns
chutes, mas a porta não cedia. Olharam em volta, nenhuma janela. O jeito era
atirar. Atiraram, a maçaneta caiu e a porta abriu. Entraram pelo corredor, não
tinha ninguém. A porta do escritório do Morsa tava toda destruída. Entraram. Sangue
no carpete, uma poça enorme que vinha do banheiro. Abriram a porta e viram o
Almeida todo baleado, com um bilhete cobrindo o rosto:
NINGUÉM SE METE
COMIGO, SEUS MERDINHAS. FICAM AÍ CHUPANDO ROLA DE GRINGO EM VEZ DE RESOLVER OS
MEUS PROBLEMAS. AGORA VOCÊS VÃO TER QUE SE VIRAR PRA ME DAR O DINHEIRO QUE
ESTAVA COMBINADO. VOCÊS TÊM 48 HORAS.
- MERDA! FILHO DA PUTA! GORDO
DESGRAÇADO! PUTA QUE PARIU, MERMÃO, É HOJE QUE EU MATO ESSE VIADO! CADÊ ELE? EU
VOU AGORA ACHAR ESSE DESGRAÇADO! ME SOLTA, CARALHO!
- CALMA, ARTHUR! CALMA, PORRA! O
cara fudeu com a gente, mas ele vai ter o troco, ô se vai. Ele não tem nem
ideia de com quem ele mexeu. (disca) Oi, Gabi. É, vou precisar de você aqui
agora, se possível. Rua da Bahia, do lado dos Correios. É uma escadinha azul,
não tem erro. Ok, tô te esperando. Um beijo, Gabi. (desliga) Você vai conhecer
a psicopata mais fria que você já viu. E com certeza as aparências enganam.
A Gabi é amiga de faculdade do
Marcelo, se formaram juntos, mas tomaram rumos diferentes. Ela foi advogar, mas
depois de um tempo cansou daquela ladainha toda e resolveu ser uma “justiceira”
no mundo do crime. É uma mulher linda, baixinha, cabelos e olhos castanhos. Ninguém
imagina o que se esconde por trás daquela carinha de criança. E foi com essa
cara que ela chegou no escritório do Tadeu. Foi uma surpresa pra todos. Correu e
abraçou longamente seu antigo amigo, e começou a perguntar:
- Então, Berquozito, como vai a
vida?
- Vai bem, dona Gabriela, e a
sua? Matando muito?
- Sabe como é né? Mas me conte,
como posso ajudar vocês?
- Então, Gabi, vamos começar do
começo. Aquele em pé ali se chama Pinky, veio pra cá da Inglaterra a pedido do
chefe. Parece que o crack de BH é melhor que o do resto do mundo e ele veio pra
cá arrumar uma boa quantidade pra vender na terra da rainha. Não me pergunte
por que crack, também não consigo entender. Enfim, ele chegou aqui e foi direto
comprar as paradas com o pessoal da Pedreira, mas eles acabaram com ele,
levaram tudo que ele tinha e deixaram ele jogado na Lagoinha. Nisso, veio o
chefe dele lá de Londres pra pedir ajuda de um filho da puta aí, tal de Jorge. Certeza
que você já trombou com ele no tribunal. Delegado corrupto, gordo, bigodudo. Esse
cara só manda os outros fazer, nunca resolve nada, e quando caiu na mão dele
esse problema com o nosso amigo ali, mandou pro Tadeu, que é o narigudo ali na
mesa, e o Tadeu pediu pra mim e pro Arthur, o barbudo puto da vida ali. O problema
é que a gente tinha uma pendência com esse Jorge, e íamos resolver logo pra
ficar livre desse cara, só que antes disso surgiu a questão do crack. Resumo da
ópera, ele matou todos os traficantes, pegou todo o crack pra ele, matou um
amigo nosso e agora quer nosso dinheiro. É aí que você entra. Precisamos encontrar
esse cara e tirar umas informações dele, depois você pode fazer o que quiser. Tá
dentro?
- Claro, baby! Adoro matar
corruptos, são os que sangram melhor! É só me garantir que eu vou participar de
tudo a partir de agora!
Todos ficaram olhando pra ela,
sem conseguir acreditar. Como podia aquela coisinha tão inofensiva ser tão
cruel? De repente o Arthur deu um pulo:
- Caraca, já tava esquecendo! Olha
o que que eu achei lá, atrás da porta do Morsa! (mostrou um diamante enorme, do
tamanho de um punho pequeno) Esse cara tá de sacanagem com a nossa cara. Tem mais
coisa aí do que a gente imagina.
E todo mundo ficou lá, olhando
aquele diamante e pensando “que merda será que tá acontecendo?”, até que o
Marcelo falou:
- Cacete, a gente tem que achar
esse cara é agora. Tadeu, sabe de algum lugar que ele pode ter ido pra se
esconder?
- Sei, pior que sei. Ele tem uma
fábrica de tecido lá pros lados de Venda Nova. Bora lá, eu ensino o caminho.
- Vamo lá então.
Foram os cinco pro carro e, ao
som do Led Zeppelin, partiram em direção à vingança.
Nota do autor:
- Venda Nova é um bairro na região norte de Belo Horizonte;
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