No apartamento, Pinky, já de banho tomado e com uma roupa nova, descansava tranquilo no sofá, quando foi perguntado pelo Marcelo:
- Pô, cara, que que aconteceu com
você? Como que cê foi parar lá na situação que a gente te encontrou?
- Eu vim pro Brasil a pedido do
Chefe, ou Earl, como vocês o conhecem, pra comprar uma boa quantidade de crack,
e pelo que me disseram, o da sua cidade é o melhor, por isso vim pra cá. Marquei
de encontrar o cara que ia me vender num galpão perto de uma pedreira, mas
quando eu cheguei lá, os filhos da puta me acertaram na nuca e eu apaguei. Depois
só lembro de acordar naquele lugar onde vocês me acharam. Levaram todo o
dinheiro que eu tinha, meu chapéu e minha gravata.
- É, conhecendo os traficantes da
Pedreira, é bem capaz de terem levado outra coisa sua! Hahahahaha!
- Para com isso, cara. De todo
jeito, agora falando sério, já que vocês vão me ajudar, eu preciso saber como. E
o que eu devo fazer.
- Presta atenção, cara. Nós nunca
lidamos com traficante, nunca compramos droga e nunca vendemos. É um exceção
que a gente tá fazendo porque o dinheiro é muito bom. Então você não faz nada
diferente do que a gente mandar, entendeu?
- Perfeitamente.
- Ótimo! Agora, Arthur, você
ainda é amigo daquele cara dos disfarces?
- Claro. Você quer quantos?
- Três. A gente tem que parecer
três pessoas completamente diferentes. Agora, se possível.
- É pra já! (disca no telefone)
Alô, Elizeu? Ô, meu querido, tudo bem com você? Cara, tô precisando que você quebre
um galho aqui pra mim. É, exatamente. Três. Você tem que mudar completamente a
nossa cara. Pra gente se entrosar com uns traficantes aí. Da Pedreira. É,
porra, Pedreira Prado Lopes! Coisa de trabalho, Elizeu. Não te interessa,
porra! Vai arrumar ou não? É, agora, cara. Tá. Tá. Amanhã de manhã então hein. Mas
sem ficar de gracinha com a minha cara. Tá bom. Falou, abraço. (desliga) Ele falou
que amanhã de manhã ele tem tudo na mão.
- É bom mesmo. Esses caras que
você arruma por aí, não sei não. Mas eu já vi o trabalho dele, então tá
tranquilo. Pinky, vai beber alguma coisa?
- Se tiver uma cerveja aí,
aceito.
- Tá na mão! Judith, traz três aí,
meu amor! E não esquece daquela chupadinha que eu te falei! Depois pode ir
trabalhar!
- Cara, eu ainda não acredito que
você mora com uma puta. Dá pra acreditar, Pinky?
- Parece uma vida interessante.
- Hahahahahaha com certeza! Ô,
Marcelo, liga pro Morsa aí, fala que a parada que ele pediu pra gente vai ter
que esperar mais um pouco.
- Eu não, liga você! O filho da
puta já quer comer meu cu com arroz, se eu falar que vai atrasar mais ainda,
ele faz isso mesmo.
- Puta que pariu, hein. Só me
fode. (disca) Alô, Mors...Jorge? Tudo bem, Jorge? Aqui é o Arthur que tá
falando, lembra? Claro que lembra, como que pode esquecer um babaca como eu né?
Então, Jorge, eu tô ligando pra avisar que aquela parada que o senhor
encomendou vai demorar mais um pouco. É, eu sei que o senhor já pediu faz mais
de um mês, mas é que surgiu um problema aqui pra gente. Com um gringo aqui,
coisa à toa. Mais uma semana e a gente resolve. O quê? Que gringo? Um gringo
aí. É, esse mesmo. Pois é, filho da puta. Babaca demais ele, eu sei. Não merece
a nossa ajuda...não, peraí, merece sim, Jorge. O cara paga bem, Jorge. Eu sei,
Jorge. Não, Jorge, não tô dando pra ele. Uma semana, prometo. Em uma semana seu
problema tá resolvido. Ok, obrigado pelo seu tempo. (desliga) PUTA QUE PARIU,
MARCELO! QUALQUER DIA EU MATO ESSE GORDO FILHO DA PUTA!
- Tá louco, cara?! Quer morrer?
Matar o Jorge? Tá fumando o quê?
- Ah, mermão, esse cara é o maior
filho da puta. Nêgo só respeita ele porque é polícia. Tô te falando, um dia a
casa cai pro lado dele.
- Olha lá hein. Ô, Judith! Cadê
as cervejas? Ah, até que enfim. Pode sair pra trabalhar, depois a gente resolve
nosso assunto. Mas me conta aí, Pinky, como é esse esquema lá na Inglaterra? Aqui
no Brasil você viu como é. Um querendo comer o outro.
- É exatamente assim, cara. Bandidagem
é igual no mundo todo! Hahahahaha.
- Hahahahahaha verdade, cara,
verdade.
E assim, ficaram conversando
noite adentro, até que o cansaço ficou insuportável, e foram todos dormir. No dia
seguinte, bem cedo, o celular do Arthur tocou. Era o Elizeu, falando que estava
tudo pronto. Eles se aprontaram e foram encontrar com ele. O Elizeu era um cara
negro magrelo, parecendo africano. Pelo que o Arthur contava, o cara gostava de
cheirar açúcar. “Puta mania estranha” era o pensamento do Marcelo. O Elizeu
falou:
- Mano, cês vão ficar
irreconhecível. O trem aqui é bom. Bora lá, vai demorar um tiquin porque são
trêis.
Quando ele terminou, realmente
nenhum dos três se reconhecia no espelho. O Marcelo agora tava careca e
narigudo, o Arthur tinha um tapa olho e metade da cara agora era barba, e o
Pinky parecia ter o dobro de largura, e agora estava negro. Perfeito, ninguém
ia saber. E assim foram os três na direção da Pedreira lidar com os
traficantes. Chegaram lá, no mesmo galpão onde Pinky tinha se encontrado com
eles, mas dessa vez estavam preparados. No caminho, tinham ligado pro Almeida
pra pedir um suporte, e ele mandou dois caras pra ficar por perto caso
acontecesse qualquer merda. Entraram no galpão e o que viram os deixou
totalmente perplexos, sem conseguir entender.
Nota do autor:
- Pedreira Prado Lopes é a favela mais conhecida e mais perigosa de Belo Horizonte;
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