Powered By Blogger

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Outra cidade

Por: Marcelo Berquó
Hoje eu tenho muita coisa pra fazer. Minha namorada (se é que ela é minha namorada) tá me esperando em casa, mas hoje não dá. Hoje eu tenho que explodir aquela merda. Resolvi ir vestido com a mesma roupa.
Cheguei no beco, nos fundos do restaurante, e entrei pela porta de trás. Merda, tinha gente na cozinha. Beleza, vou render esses filhas da puta e tacar fogo. Mas tenho que trancar todas as saídas pra ter certeza de que os desgraçados vão todos morrer. Cheguei metendo o pé na porta, com a arma apontando pro chef e gritando que era pra todo mundo ficar quietinho se não o viado tomava bala. Foi mais fácil que eu imaginava. Bando de bichinha, todo mundo se cagando. Ninguém falou nada. Rendi e amarrei os viados num canto na cozinha, e peguei uma roupa de faxineiro no armário lá atrás. Fui pra parte principal do restaurante. Era bonito, bem iluminado, todo de madeira. Ia queimar rapidinho. Fui trancando todas as portas de saída, menos a da cozinha. Era por lá que eu ia sair. Quando tava tudo trancado, fui pro meio do salão, tirei a roupa de faxineiro e gritei bem alto pra todos aqueles idiotas irem se fuder. O gerente chegou e “pediu gentilmente que eu me retirasse”. Dei três tiros no viado. As baratas começaram a correr e gritar, mas eu dei um tiro pra cima e falei que quem mexesse mais um dedo levava chumbo. Deu certo também, todo mundo ficou quietinho. Fiquei um tempo falando como eu tinha desprezo por esses imbecis que se achavam superiores que todo mundo só porque tinham dinheiro. Eu também tenho dinheiro, porra! E nem por isso eu sou melhor que os outros! Depois que eu disse isso, mandei todo mundo ir se fuder de novo e dei mais um tiro pra cima, só pra eles saberem que eu não tava de brincadeira. Fui pra cozinha e comecei a ligar o gás de tudo naquela merda. Peguei um dos botijões de reserva e rolei pro meio do salão. Porra, aquela merda era grande pra caralho. Ia ser lindo. Abri a boca do botijão e fui correndo pra porta de trás. O gás já tava bem forte. Dei um último tiro, pra incendiar a merda toda. Foi o tempo de eu sair e atravessar a rua de trás e BOOOOOOOOOOM. A merda foi por espaço. Foi bonito pra caralho. Eu sou foda.
Cheguei em casa e falei com a Favorita (esse é o nome dela de agora em diante, porque “putinha” é ofensivo demais) que tinha explodido um restaurante de rico e de madame. Ela perguntou se foi bonita a explosão. Eu falei que foi bonita pra caralho. Dava pra ouvir os ratos gritando enquanto aquela merda queimava. Ela ficou orgulhosa e veio pra cima de mim. Foi o boquete mais gostoso que eu já recebi na minha vida. Depois fizemos o sexo selvagem de sempre, e fomos nos deitar.
Nos jornais de manhã, era primeira página. “RESTAURANTE DE RICOS FODIDOS EXPLODE. NIGUÉM VAI SENTIR FALTA DESSES RATOS”. Mentira, mas bem que podia ser assim. Peguei a Favorita e fomos dar uma volta, tomar café da manhã em algum lugar. Chegamos numa lanchonete meio suja, num lugar fedorento. Entramos e eu pedi um café. A garçonete perguntou o que a minha filha ia querer. Porra, eu tô tão velho assim? Falei que ela era minha namorada. A garçonete não tava nem aí, só queria saber o que ela queria. Pedi um café pra ela também. Comemos um omelete ruim pra cacete. Deu vontade de sair sem pagar, mas não queria causar problema naquele lugar imundo. Dei cinquenta pra garçonete e mandei ela ficar com o troco. Fomos embora pra casa. Na TV, um policial tava dizendo que todos os esforços da polícia eram pra encontrar o responsável pela explosão do restaurante. Porra nenhuma! Eles iam procurar por dois dias, dizer que foi um vazamento de gás acidental e encerrar essa merda. Ninguém tá nem aí pra porra nenhuma nessa merda de cidade.
Perguntei pra Favorita se ela gostava daqui. Ela disse que odiava, disse que sonhava em conhecer outros lugares. Decidi que íamos sair daquela merda hoje mesmo. Pedi pra ela esperar em casa que eu ia resolver umas coisas. Fui no banco pra saber quanto eu tinha. Porra, era dinheiro pra caralho. Nem eu sabia que tinha tanto. Fui falar com o gerente e ele me garantiu que era só dar meu nome em qualquer banco que eu podia tirar minha grana. Claro, cliente importante, cheio da nota, ele não podia dar mole. Fui pra casa, tomei um banho com a Favorita, fizemos as malas e saímos. Perguntei pra onde ela queria ir, ela disse que qualquer lugar servia, desde que não fosse essa merda de cidade. Pegamos um táxi pro aeroporto, comprei nossas passagens, nem sei pra onde. Entramos no avião e fomos embora daquela merda. Porra, eu odiava aquela cidade. Agora qualquer lugar tá bom.

Nenhum comentário:

Postar um comentário