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quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Odiosa natureza humana

Por: Marcelo Berquó

É hoje. É hoje que eu saio desse lugar maldito. Esse lugar cinzento, essas pessoas cinzentas, esses guardas cinzentos, essas grades cinzentas. Não acredito que me prenderam. A Favorita agora já deve ter seus 21 anos e eu sei que ela está me esperando. Tive sorte, a pena foi curta. Seria mais curta ainda se eu não tivesse matado aquele cara que dormiu na minha cama. E aquele outro que sujou minha roupa. E aquele que leu meu livro. É, seria mais curta sem esses detalhes. Resolvi não gastar dinheiro pagando fiança. Cadeia é bom pra endurecer o homem.
A Favorita olhou pra mim, assustada. Eu tava feio pra caralho. Não comia quase nada e se eu não fizesse exercícios, levava bala. Tava que nem um esqueleto. Ia demorar um pouco até me recompor, mas ela me aceita de qualquer jeito. Paramos em uma barraca de cachorro quente e eu comprei cinco. A Favorita terminou o dela e fomos pra casa enquanto eu começava o segundo. Eu tava com fome pra cacete. Minha casa. Meu santuário, meu refúgio. Meu e dela. Quando os sujos me encontraram, disse a ela que não se preocupasse. Aquele restaurante maldito tinha câmeras. Eu vi as câmeras, mas pensei “Foda-se, vou explodir tudo mesmo”. Mas as câmeras eram ligadas com o sistema de segurança da prefeitura. O dono do restaurante era filho do prefeito. Os federais malditos nos seguiram até o aeroporto, pegaram o mesmo avião que a gente e me prenderam na saída. Consegui convencê-los a deixar a garota ir, ela era menor de idade e não tinha feito nada. Ela pegou um táxi pro hotel mais próximo e esperou os ratos me levarem. Na primeira visita dela, eu disse que era pra comprar uma casa. No primeiro Natal eles me deixaram sair e ir pra casa. Adorei o lugar. Ela soube escolher bem. E lá estava eu de novo, depois de tantos anos, de volta àquela casa. Fui dormir depois de comer. Quando acordei, descobri que tinha dormido por um dia inteiro. Tinha que pensar em uma forma de me vingar dos ratos. Voltar pra outra cidade não. Eu tenho que atacar aqui. Vou bolar algo. Pensar em um jeito de mostrar pra esses putos a minha fúria.
A agência federal era grande pra caralho. Edifício alto, disfarçado de prédio de escritórios. Explodir não ia dar. Eu tenho que pensar em alguma coisa. Armas silenciosas. Uma máscara. Um colete. Matar quantos imbecis eu puder. Preciso entrar de máscara, não posso arriscar. Ok, vou entrar. Uma recepcionista numa mesa grande. Nem me viu. Elevador. Vou limpar um andar de cada vez. Ainda bem que trouxe muita munição. Foi um banho de sangue. Ninguém tinha tempo de fazer nada. Quando cheguei no último andar, o dos pica-grossa, saquei as granadas de fumaça. Ninguém viu quem era aquele saindo do elevador, e quando viram já era tarde. Finalmente, cheguei nele. O chefe. O desgraçado que mandou me prender. Pra ele eu tinha algo especial. Depois de amarrar o desgraçado na cadeira e colocar um nariz de porco nele, montei a câmera e apontei pra cara dele. Minha faca se movia como uma dançarina de tango pelo rosto do sujeito. No final ele estava irreconhecível. Para o gran finale, entalei uma granada na boca dele, afastei a câmera e assisti. Foi lindo. E o melhor, ninguém ficará sabendo.
Cheguei em casa e contei tudo pra Favorita, depois mostrei o vídeo pra ela. Ela adorou. Tinha se tornado uma mulher linda. Tinha sido endurecida pelos anos que passou tendo que se virar sozinha. Gostei disso. Agora ela também podia ir comigo revelar aos impuros e malditos a odiosa natureza humana.

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