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sexta-feira, 16 de setembro de 2011

O Assalto

Por: Marcelo Berquó

Minha cabeça girava a mil por hora. Naquele momento, sentia-me como se quinhentos quadros-negros fossem riscados ao mesmo tempo dentro dela. Esqueci-me de me apresentar: meu nome é David, tenho 25 anos e eu acabo de matar um homem.

Hoje de manhã, depois de acordar e tomar banho, estava lendo meu jornal tranquilamente, quando a campainha tocou. Não imaginava quem poderia ser tão cedo, portanto fui atender a porta. No momento em que eu girei a chave, o homem do lado de fora se atirou dentro da minha casa apontando uma arma para mim. Não reagi, mas perguntei ao homem:

- Por favor, qual é o seu nome e qual o motivo disso?

Ao que ele me respondeu:

- Oh, sinto muito. Onde estão meus modos? Chamo-me Tyler, e eu pretendia matá-lo, mas como você é um homem educado, talvez eu deixe você viver.

- Prazer Tyler, meu nome é David. Mas eu ainda não entendo a necessidade de apontar essa arma para mim. Pelo que posso deduzir, você pretende me assaltar, e sinceramente, eu não pretendo impedi-lo. Dessa forma, você pode deixar esses detalhes de lado e prosseguir com o que quer que você queira fazer aqui.

- Muito bem David, você me convenceu. E também acertou o motivo da minha pequena visita, mas isso é pra depois. Primeiro, eu preciso de uma cama. Não durmo há três dias, e pelo menos uma hora de sono eu quero ter. Se você me permite, gostaria de usar a sua. Tudo bem?

- Hã, claro. Segundo andar, terceira porta à esquerda. Troque os lençóis, por favor.

- Muito obrigado David. Até mais.

Sem dúvida, essa foi a conversa mais estranha que eu tive em toda a minha vida. Continuando, eu estava tão confuso com aquele diálogo incomum que nem me lembrei de chamar a polícia. Meu pensamento pairava na arma daquele ladrão. Esperei alguns minutos, para garantir que ele estaria dormindo, e fui silenciosamente até o quarto. Com cuidado, eu consegui tirar a arma dele, e fiquei sentado, esperando que ele acordasse. Passadas duas horas, ele abriu os olhos e deu de cara com a própria arma. Claro, foi um susto e tanto para ele. Afinal, ele estava em uma posição totalmente contrária à de quando havia entrado na minha casa. Enfim, ele estava lá, com aquela cara de espanto, e disse as seguintes palavras:

- Não consigo acreditar que me esqueci de trancar a maldita porta! Eu devo ser o pior assaltante do mundo! Veja, podemos chegar a um acordo. Não é necessário usar violência, ok?

Na hora, eu comecei a gargalhar. Aquele homem que parecera tão ameaçador com uma arma na mão era totalmente patético desarmado. Apesar de sentir pena de pessoas patéticas, não poderia deixar aquele ser medíocre sair vivo depois de entrar na minha casa, dormir na minha cama, e ainda por cima com intenções de me assaltar depois. Fui levando uma conversa totalmente aleatória, para distraí-lo, e quando eu o “deixasse ir”, daria o golpe final. De qualquer forma, quando eu fiquei entediado daquele miserável, eu disse o seguinte:

- A conversa foi boa, mas eu não posso ocupar meu dia inteiro com você. Pode ir agora, e pare de assaltar casas. Vá ler um livro, procure um emprego. Você é um homem de potencial, então não o desperdice com futilidades. (Pobre homem, eu estava iludindo-o com palavras de incentivo, e ele inocentemente aceitou meu conselho).

- Muito obrigado David. Você tem bom coração. Espero encontra-lo de novo algum dia!

Muito provavelmente, isso aconteceria. No inferno, lugar de assaltantes incompetentes e “vítimas” inescrupulosas. Ele se levantou e caminhou até a porta. Eu peguei o travesseiro e tampei o cano da arma com ele, para abafar o som do disparo. Ele se virou para dizer um último adeus antes de sair pela porta, e eu atirei. Ironicamente, esse foi, de fato, o último adeus do assaltante. Se você, leitor, tinha qualquer vontade de matar alguém, ouça o meu conselho: só mate se for extremamente necessário, pois a sua consciência passa a pesar mil vezes mais.

Enfim, essa é a história do meu primeiro assassinato. Pelo menos a causa foi nobre, já que agora tem um assaltante a menos no mundo. Mas, mais importante, tem um incompetente a menos para atrapalhar os outros.

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